[ Jornal + | 31/10/2012 ] Esquisito, não: seleto!
Hoje é um dia especial para mim. Pela primeira vez nestes 23 anos de vida alguém disse que eu não era esquisito a comer. Devo dizer que foi com grande custo que finalmente consegui este feito memorável na minha vida. A minha mãe vai, com certeza, ler estas palavras com alguma hesitação e irá muito provavelmente até indagar acerca da legitimidade desta pessoa para afirmar tal coisa. Mas o que é certo é que consegui de facto mudar, e muito, a minha forma de comer, particularmente nestes últimos dois anos.
Cresci sem dar grandes trabalhos à minha mãe. E quando era mesmo pequeno então é que, segundo ela, tinha uma "boquinha santa". Comia de tudo e tudo o que ela me dava. À medida que fui crescendo, fui também me tornando mais... seleto, como eu prefixo chamar-lhe. Usava sempre a mesma desculpa, digo, justificação quando era confrontado por alguém acerca das minhas limitações gustativas: "eu só não gosto de legumes cozidos". E por conseguinte, tudo o que os incluísse, especialmente sopas.
E era verdade (se ignorarmos fígado, orelha de porco, pata de galinha, e essas coisas estranhas que não compreendo como é que foram acabar introduzidas na nossa gastronomia)! Eu realmente detestava comer legumes. E arrisco dizer que a culpa era da minha mãe que talvez não se tenha esforçado o suficiente para os tornar interessantes e atrativos nos pratos que me confecionava. (Desculpa, mãe, mas ninguém é perfeito!)
Agora que cozinho para mim e que tive, entretanto, oportunidade de contactar com outras cozinhas completamente diferentes da nossa tradicional forma de cozinhar em Portugal, em que tudo é estufado ou cozido até quase se obter um puré que, juntamente com pedaços do pão de ontem faz uma sopa pesada capaz de alimentar para o resto da semana, vejo como estava enganado ao pensar que nunca iria ser capaz de apreciar uma courgette, ou as folhas verdes da tronchuda, ou uma simples cenoura cozida.
Devo reforçar que nunca fui esquisito quanto a tudo o que era legumes crus preparados numa salada. Mas quando passava daí, a coisa mudava significativamente de figura. Até na noite de Natal a única coisa que escapava para o meu prato era as batatas e o bacalhau. Mas depois, à medida que fui crescendo, e me fui propondo a experimentar mais sabores, fui permitindo que o meu paladar evoluísse também. Hoje posso dizer orgulhosamente que como praticamente de tudo - dentro do que é considerado tradicional na nossa gastronomia, pelo menos!
Evoluí de tal forma na minha forma de comer que tudo o que cozinho inclui sempre legumes. É inegável o papel que estes têm numa dieta saudável e equilibrada e isso nunca sequer foi posto em causa. Talvez também daí tenha me esforçado por mudar. E a mudança foi tal que os legumes se tornaram mesmo na base principal das minhas refeições! Para terem uma ideia, até sopas faço! Agora aquelas coisas como o fígado e a cabeça do galo do arroz de cabidela... Nheec... Era preciso morrer e nascer de novo!
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