[ Jornal + | 13/12/2012 ] Se "eu" não gostar de mim...

Eu sei que a premissa deste jornal não é abordar questões negativas. Totalmente pelo contrário, como o seu próprio nome indica. Porém, desta vez não posso evitar tocar num assunto que me vem angustiando e revoltando já lá vão meses, senão mesmo uns poucos de anos. Sou um jovem ainda, imaturo no que diz respeito a tantas coisas, no entanto acredito que já tenha vivido e conquistado o suficiente para saber o verdadeiro valor e importância que tem o poder de acreditarmos em nós próprios.

Hoje, há uma hora apenas, tinha ideia de escrever a crónica para esta edição sobre um assunto completamente diferente, mas um vídeo que encontrei onlinedespoletou em mim sentimentos adversos que me dominaram por completo e que acabaram por determinar a direção que este texto está a tomar. Nesse vídeo podem ver-se imagens de Cristiano Ronaldo a jogar, ilustrando alguns dos momentos altos das últimas exibições do jogador, dando destaque ao facto de apesar de muitas vezes ter meio-mundo contra si, o jovem madeirense continua a dar cartas naquilo que melhor faz, provando o seu valor.

Este vídeo levantou em mim – mais uma vez – a questão: mas qual é o problema dos Portugueses? A minha experiência de vida fora do país não é assim tão extensa. Conheço, se muito, a cultura dinamarquesa, e isso é já suficiente para pelo menos indagar acerca do que nos define enquanto sociedade. Serve de ponto de partida. E um dos aspetos fulcrais que nos colocam à parte dos dinamarqueses, do tanto que já pude absorver, é a dimensão do orgulho que têm em si e nos seus.

Em época de futebol, é certo que o problema parece ser menor. Subitamente somos a maior nação do mundo, orgulhosos da bandeira que pendurámos à varanda. Mas quantas vezes nos rebaixamos mesmo antes de alguém de fora dizer uma palavra? Quantas vezes fomos os primeiros a questionar o nosso valor ou a denegrir aquilo que se faz em Portugal? 

Este texto não pretende ser de todo um manifesto de fanatismo pelo Ronaldo, ou por qualquer outra entidade em particular. Nem tão pouco sou adepto de futebol. Foi um vídeo sobre ele que me levou a escrever, mas poderia ter sido sobre qualquer outro Português que se destacou numa determinada área e que por isso mesmo parece ter uma legião de “haters” que parecem ter prazer em denegrir, em rebaixar, em diminuir. Ainda que estes seres humanos não sejam perfeitos enquanto tal – afinal de contas, quem o é? -, eles têm valor enquanto futebolistas, enquanto músicos, enquanto atores. E nós, portugueses, tendencialmente consideramos que os nossos talentos nunca são suficientemente bons, nunca são verdadeiramente motivos de orgulho. Muitas vezes é preciso alguém de fora vir louvar os seus talentos para que nós mesmos os saibamos reconhecer. É triste. Mas é como diz o slogan de uma certa marca: “se eu não gostar de mim, quem gostará?”. E o “eu” aqui é Portugal.

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