[PT] Mike Doyle, O artista do momento!

Há alguns dias atrás mostrei-vos o seu trabalho, agora é hora de vos apresentar o homem por trás das obras de arte.

Desde o meu último post sobre ele que estava a pensar em entrar em contacto para lhe fazer algumas perguntas. Mas na verdade, foi ele quem comunicou primeiro comigo para me agradecer por ter escrito sobre as suas criações. Aproveitei a oportunidade e convidei-o para uma entrevista por email, que ele prontamente aceitou.

Então aqui está ele: Mike Doyle, o designer gráfico de 43 anos que tem captado a atenção dos fãs LEGO nos últimos tempos! Casado, pai de dois rapazes, de 4 e 8 anos, e a trabalhar numa agência de design em NYC, ainda arranjou tempo para descobrir uma nova forma de usar a sua criativadade e num curtíssimo espaço de tempo já conquistou o seu lugar entre a comunidade de fãs LEGO.

Quando é que tiveste o teu primeiro contacto com LEGO?
Eu lembro-me de brincar muito em miúdo - atirando todas as peças que recebia dos sets para uma caixa de cartão. Acho que construí as típicas coisas de criança, castelos, casas, naves espaciais e coisas assim. Eu era um miúdo introvertido, por isso passava muito tempo sozinho a desenhar, construir e reflectir.

Hoje em dia, quais são os teus temas LEGO favoritos?
Não sei. Se me perguntares sobre sets, não estou muito interessado em sets. Acho que se passa o mesmo com os temas. No que diz respeito a MOCs, realmente qualquer coisa é capaz de me interessar desde que seja diferente de tudo o que já tenha visto antes.

Quando é que construíste o teu primeiro MOC (My Own Creation)?
Bem, tecnicamente, quando era criança com aquela caixa de peças. Mas, depois de deixar o LEGO de lado na minha adolescência, voltei a pegar-lhe recentemente (há cerca de 8 meses). E o meu primeiro MOC foi a casa abandonada Two Story, que eu chamei Two Story with Basement

Fala-nos um pouco sobre ela.
Eu queria fazer algo diferente - para mim, isto era importante. Andava inclinado para edifícios. Além disso, sempre fui fascinado por casas abandonadas e pela beleza da degradação. Tudo junto fez-me decidir trabalhar nisto como uma série - isto é, uma série de casas abandonadas.

Foi ponto assente desde o princípio que me iria limitar ao preto. Como muitos escultores que trabalham sobre a mármore branca ou moldam bronze, a minha criação seria monocromática. Achei que isto poderia elevar a obra e torná-la mais artística. E também tive alguma dificuldade em encontrar as cores certas para atingir o realismo que eu gostaria. À medida que esta primeira obra evoluía, comecei a acrescentar neve. A partir daí comecei a precisar de usar branco. Assim, a criação ganhou forma a preto e branco.

Eu não tinha bem a noção do que estava a fazer. Sabia que tinha de ser algo grande para captar o grau de detalhe que eu queria. Mas eu não sei fazer muito mais do que empilhar "bricks" e "plates" (n.t. peças básicas LEGO). Passei muito tempo a examinar trabalhos de outras pessoas, a tentar perceber que peças usavam. Encontrei também uma série de guias em formato pdf com técnicas avançadas de construção. Finalmente, dei uma vista de olhos nas instruções do Café Corner para ficar a conhecer algumas das técnicas que os "prós" utilizavam. Na verdade, também vi alguns dos teus trabalhos - uma casa com um efeito de telha nas paredes (n.e. Lionheart Villa). Essa criação foi uma grande ajuda visto que me mostrou que era possível criar esse efeito.

A direcção que eu tomo durante o processo de construção é talvez um pouco diferente do habitual no que diz respeito à forma como visualizo o trabalho. Eu vejo-o como uma peça bi-dimensional (ou talvez 2.5D). Isto é, a minha atenção está focada na criação de uma única imagem - a melhor possível -, ao invés de tentar criar de um modelo completo e com bom aspecto visto de qualquer ângulo. Aproveito a profundidade inerente a um modelo 3D para dar mais vida à foto. Deste modo, ao invés de criar um modelo 3D para depois o fotografar, na minha cabeça, eu idealizo uma foto construída em 3D. A diferença está no facto de toda a energia visual e decisões estarem focadas num único "melhor" ângulo de visão, que será - por fim - a minha fotografia. Desta forma, tudo o que eu vou colocando na criação pode ser disposto da forma que melhor ficar para a foto.

A tua segunda criação, a Three Story Victorian with Tree, tinha a ingrata tarefa de superar o teu primeiro trabalho, mas surpreendentemente conseguiste fazê-lo de uma forma brilhante! Não deve ter sido fácil!
Obrigado, Marcos! Houve alguns momentos mais para o fim em que já me começava a sentir um bocado cansado, devido ao tempo que me estava a tomar. (Não consigo compreender como há quem consiga passar anos a trabalhar no mesmo projecto!) Porém, o mais importante é o facto de eu ser um verdadeiro apaixonado por isto - assim como tenho a certeza que tu e outros AFOL/MOCers são. Muitas vezes não consigo pensar em mais nada. De tal forma, que é a paixão que me vai guiando. A certa altura, quando me apercebia que algo poderia ficar ainda melhor, não tinha escolha senão tentar e tentar outra vez até ficar o melhor possível. Grande parte deste MOC foi construído e reconstruído 3 ou 4 vezes até chegar ao ponto que eu queria! Muito pela falta de experiência, mas também pelo empenho e a paixão por criar aquilo que eu já tinha completamente idealizado na minha mente.

Onde arranjas as peças para as tuas criações?
Todo o meu LEGO veio de vários vendedores do Bricklink. Adoro o site e o serviço que estas pessoas prestam. Tanto eles como o serviço são absolutamente fantásticos.

No teu blog, tens à venda uma "Edição Limitada de Impressões de Coleccionador". Onde foste buscar esta ideia? O que podem os teus "compradores" esperar disto?
Tratam-se de adoráveis impressões, assinadas e numeradas, com cerca de 10'' - 13'' (dependendo das proporções da foto), limitada a apenas algumas centenas (200 - 500), dependendo da imagem. Eu desmontei estes trabalhos, por isso tudo o que resta deles são estas impressões e o que quer que esteja na Internet. Isto significa que quando se esgotarem, não haverá jamais outra imagem delas - tornando-as muito limitadas. As impressões vêm também acompanhadas por um certificado de autenticidade assinado, numerado e carimbado, uma nota que eu escrevi sobre a obra que inclui alguns informações adicionais sobre a mesma e ainda uma "pedaço" verdadeiro do modelo em si. Este pedaço está colado (para que permaneça intacto durante o envio, etc.) e guardado num pequeno saco de plástico preso a um postal. Este postal tem uma ilustração da obra e uma marca a demonstrar o exacto local de onde veio aquele fragmento. Normalmente, o fragmento é composto por 5-15+ peças, dependendo do tamanho destas, e no seu todo mede à volta de 4 centímetros.


A ideia de vender estas impressões surgiu quando estava a terminar a primeira obra. A despesa foi tão grande que eu precisava de arranjar uma forma de recuperar algum dinheiro para dar continuidade ao hobby. Adicionar ao "pacote" um "pedaço" da obra, foi a forma que eu encontrei de oferecer algo realmente único para além da impressão. Além do mais, tendo em conta o tema das criações, incluir um fragmento da própria obra pareceu-me perfeito.

Onde vais buscar a inspiração?
Em termos de edifícios e atmosfera, vou vendo fotos no flickr. Casas abandonadas, a forma como a neve se acumula, jardins abandonados, árvores caídas sobre casas são tudo coisas que procurei. Muitas vezes, num edifício que no seu todo nem é do meu interesse, posso encontrar um detalhe de deterioração que capta a minha atenção. No que diz respeito a técnicas, muita da minha inspiração vem dos vários MOCs que andam aí. Existe uma inovação de tal ordem que fico sem palavras. Olhar para eles ajuda-me realmente a ter uma melhor percepção de como se podem combinar as várias peças.

Que tipo de preparação fizeste para as tuas primeiras criações?
Basicamente, pesquiso imagens, como já mencionei, e vejo outros MOCs para perceber como é que os outros utilizam as técnicas. Visito regularmente todos os blogs e sites, como o MOC pages e flickr, para ver os trabalhos das outras pessoas. A escala é determinada por uma peça LEGO que eu queira usar para um determinado fim. Por exemplo, na última criação, eu tomei como referência o tamanho de um tijolo normal da casa como sendo aproximadamente do tamanho de uma tile 1x2. A partir daí é só começar a construir. Normalmente preciso de refazer as coisas 3 ou 4 vezes até que elas fiquem "no ponto", por isso funciona um pouco na filosofia do "vai-se andando, vai-se vendo".

Tanto quanto sei és relativamente novo na comunidade de fãs de LEGO. O que é que te trouxe para este universo criativo?
Tudo começou com uma visita à LEGOLAND este verão. Estávamos numa área onde podes construir o teu próprio carro e jogá-lo por uma rampa abaixo. Eu estava a "vigiar" o meu filho e os meus sobrinhos, ao mesmo tempo que me entretinha a construir também. Depois de uma hora ou duas, fomos para fora visto que o resto do pessoal estava à nossa espera, mas estávamos todos realmente cheios de vontade de voltar lá para dentro. Voltei para o meu quarto de hotel e comecei imediatamente a ver o que havia na Internet. Eu não fazia ideia se existiam adultos a construir com LEGO ou se as pessoas fotografavam as suas construções. Surpreso fiquei eu ao ver tanta coisa incrível! Não fazia ideia. De repente, aquele pequeno carro que eu tinha feito parecia tão trivial. Mas também me apercebi - através de todos aqueles trabalhos que encontrei - de até onde isto podia ir. Parecia não haver qualquer limite.

Apesar de seres "novo na area", já fizeste correr bastante "tinta" no "lado LEGO da Internet". Estavas à espera disto? Como te sentes?
Não propriamente. Eu sabia as minhas obras iam ter um aspecto diferente e que iriam gerar algum interesse, mas não fazia ideia que seria tanto e tão rápido. Eu imaginava que iria colocar no MOC pages a minha primeira criação e talvez algumas pessoas reparassem nela e depois, passados alguns meses ou um ano, talvez recebesse algum reconhecimento. Mas para minha surpresa, num intervalo de horas, tive mais vistas do que imaginava conseguir ao fim de um ano! Ajudou bastante o facto do Brother's Brick ter postado a minha obra apenas algumas horas depois de eu a ter apresentado. Basicamente, tive uma grande sorte.

Em relação a como me sinto acerca disto, certamente que sabe bem receber o reconhecimento depois de todo o trabalho e despesa. Também é estranho ao mesmo tempo. Os comentários são tão entusiastas, que eu sinto que não mereço. Quando vejo as coisas incríveis que tanta gente faz por aí, e as técnicas que usam, eu penso sempre que nunca vou conseguir chegar ao nível delas. Há muita coisa realmente boa por aí! Felizmente, tenho uma boa capacidade de aprendizagem. Tudo isto também coloca uma enorme pressão sobre mim em relação aos próximos trabalhos. Eu sinto que tenho de fazer muito melhor da próxima vez e não sei se sou capaz. Na próxima obra, terei mesmo de me levar ao limite.

Consideras-te um AFOL (Adult Fan Of LEGO)?
Sim, AFOL. 

Alguma vez visitaste um evento de fãs? Se sim, qual?
Não, mas espero ir para ver como é.

Porque não começar com o próximo grande evento do meu LUG em Junho: 2.º Arte em Peças? :)

Tens algum AFOL construtor de referência? És capaz de nomear alguns?
Em termos de construtores AFOLs, sou péssimo a decorar os nomes e a associar as obras aos autores. Normalmente navego pela Internet apenas interessado nas criações. Existem, no entanto, alguns nomes que me vêem à cabeça: Katie (eilonwy77) que faz mosaicos incríveis. O seu trabalho é suficientemente diferente para se destacar. Também vi o Jordan Schwartz no Blocumentary e continuei a seguir os seus trabalhos. Lembro-me também do Sean Kenney e do Lino M..

O que podemos esperar de ti a seguir?
A minha próxima obra será aquilo pelo que me entusiasmei no momento em que comecei a construir. Há algumas semanas atrás, dir-te-ia que iria recriar colecções, talvez de minerais. Mas agora, estou outra vez entusiasmado por começar outra casa. Acho que será uma casa de verão vitoriana junto ao lago, no inverno. Acredito que possam haver possibilidades bem interessantes aqui.

Obrigado, Mike!

Espero que tenham gostado de ler a entrevista tanto quanto eu gostei de saber tudo isto sobre este grande artista. Definitivamente alguém a não perder de vista no futuro!

Podem ler mais sobre as suas criações no seu blog pessoal, onde ele tem um "making of" para cada uma delas (em Inglês).

Até logo!

P.S. Podem ler a versão original, em Inglês, aqui.

Comentários

Anónimo disse…
Muito interessante. Gostei imenso da segunda construção.

Agostinha